sexta-feira, 2 de setembro de 2011

INTRODUÇÃO

https://www.youtube.com/watch?v=62e4QkwKp1k&feature=share

Dentre os muitos movimentos religiosos marginais do cristianismo, sobreleva-se, pela desbragada heterodoxia e sobretudo pela agressividade proselitista, esse "engano dos ultimas dias" que é o jeovismo, movimento de herança russelita-rutherfordiana, que, a partir de 1931, evoca para si o pretensioso título "Testemunhas de Jeová".
De último, objetivando mais alto nível de penetração, procuram modernizar sua máquina. de propaganda, tentando imprimir caráter erudito às suas heresias, editando sua versão própria das Escrituras, visando embasar-se nas línguas bíblicas originais, para afinal rejeitarem como inservíveis as traduções clássicas e aceitas da Bíblia. Já nos primórdios do movimento, ainda na fase russelita, o "The Emphatic Diaglott" era o vade mecum em que procuraram estribar suas interpretações heréticas. O endereço telegráfico da "Associação dos Estudantes da Bíblia" em Londres, por exemplo, era simplesmente " Diaglott".
Ainda hoje o "The Emphatic Diaglott" é, para eles, material subsidiário de altíssimo valor. Porque editam o conteúdo da Bíblia numa tradução a que chamam "Novo Mundo". Não admitem a palavra "Bíblia", "Velho Testamento" nem "Novo Testamento", porque, segundo eles, constituem velharias religionistas, sem abono no texto sagrado (ver "A Verdade Vos Tornará Livres" p. 210) . Então editam as "Escrituras Hebraicas", e as "Escrituras Gregas Cristãs". Uma análise serena de conteúdo escriturístico revela que o objetivo dessas edições é tendenciosa e visa dar outra feição textual às passagem tangenciadas com o Deidade de Cristo, a Personalidade do Espírito, a Volta de Cristo e Sua ressurreição, procurando criar uma dogmática peculiar sobre estes e outros assuntos.
Antes de entrarmos no mérito de sua tradução própria, a decantada "Novo Mundo", achamos de interesse informar aos leitores acerca da tradução, freqüentemente invocada pai eles, o "The Emphatic Diaglott".
Que tradução é essa, chamada "The Emphatic Diaglott"?
Em bom português, poderíamos designá-la por "O Diaglotão Enfático". Tem mais de um século, pois foi publicada, pela primeira vez, em 1864. Seu autor foi Benjamin Wilson, redator autodidata (sem cursos formais) de uma revista quinzenal denominada "A Bandeira Evangélica e o Advogado Milenial". O massudo livro é uma edição curiosa do texto grego do Novo Testamento de G. G. Griesbach, com uma tradução rija, colada, interlinear, e ainda mais uma tradução paralela para o inglês. Em muitos aspectos e minúcias pode ser considerado o "Pai" da Tradução Novo Mundo, esta editada previamente pelos jeovistas. O "Diaglotão" é sempre citado pelas "testemunhas" como sendo a última palavra, a grande autoridade a amparar suas asserções presunçosas e dogmáticas, insistindo que "o sentido literal do grego é tal e tal" porque assim está no "Diaglotão". Nec plus ultra!
Contudo, a tradução é anódina, deficiente, carece de valor, e as eruditos simplesmente a ignoram como fonte de consulta. Não a citam, porque não oferece garantia, nem resiste a uma análise seria.
Por outro lado, os prelos da grande editora jeovista sediada em Brooklyn, Nova Iorque, EE. UU., em 1950 deram à luz a primeira edição do Novo Testamento da "New World Translation of the Christian Greek Scriptures" (Tradução Novo Mundo das Escrituras Gregas Cristãs). De então para cá, completando a tradução própria da Bíblia, imprimem-na em vários idiomas. A edição em inglês é recheada de notas à margem e rodapés "elucidativos" do texto. Em 1963 lançam o Novo Testamento, Edição Brasileira, versão que evidentemente se situa abaixo da crítica. É mera retradução do inglês e, como aquela, feita sob medida, toda pré-moldada à heresia jeovista, fazendo "pendant" especialmente com o unitarismo enfermiço que caracteriza a seita. Do ponto de vista consultivo é nula. É extravagante, tendenciosa, medíocre e também, à vista de seu flagrante demérito, é igualmente ignorada pelos eruditos como fonte de consulta e estudo.
Estas traduções não têm o valor que lhe atribuem as iludidas "testemunhas". Na sua boa fé, trombeteiam, de maneira irritante, que a apreensão de sentido do grego original do Novo Testamento é, nelas, correta e impugnável? No entanto, não resistem a um cotejo sério, em profundidade. E citamos um fato rigorosamente verdadeiro, relatado pelo Sr. Norman Klann, co-autor da obra Jehovah of the Watchtower, páginas 99 e 100. Certo elemento do staff intelectual da Sociedade Torre de Vigia, Sr. Bowman, propôs-se a "esclarecer" o autor daquele livro no que concerne à exata tradução do "The Emphatic Diaglott". Eis as palavras textuais de Klann:
"Nessa reunião apresentei-lhe o Sr. Robert Moreland, professor de grego e hebraico no Shelton College, que se ofereceu voluntariamente para ajudá-lo na pesquisa da tradução correta de S. João 1:1, Colossenses 2:9, S. João 8:58 e outros textos que as 'testemunhas' traduzem errônea e tendenciosamente com a finalidade de 'provarem' suas doutrinas não-ortodoxas. O Sr. Bowman, instrutor categorizado das Testemunhas de Jeová, foi completamente derrotado pela exegese lingüística e lídimos postulados gramaticais do grego apresentados com maestria e autoridade pelo Prof. Moreland, a tal ponto que Bowman admitiu francamente não poder refutá-lo, ficando tão desconcertado como uma criança que acabara de ficar privada de seus brinquedos prediletos".
Nos primeiros capítulos deste trabalho apresentaremos uma dissecação de suas traduções deformadas dos textos divinitórios de Cristo, os principais deles, mas o suficiente pura demonstrar que, neste ponta, os amigos jeovistas embarcam em canoa furada. Seus "ministros" de certa cultura decoraram urna "oferta verbal" destes pontos – cuja orientação lhes vem no Escola Bíblica de Gileade (South Lancing, Nova York), inaugurada em 1943. Contudo, não resistem a uma contraprova firme e documentada.
Outra tática que empregam presentemente, nos contatos proselitistas, é a amabilidade, a cortesia estudada, pois verificaram que seus métodos diretas e ríspidos de outros tempos (de orientação rutherfordiana que aconselhava a odiar os "religionistas") não produziam os resultados esperados. Enfim resolveram aplicar os princípios das relações públicas. Passaram a usar a cabeça. Contudo até mesmo dez anos depois do falecimento de J. F. Rutherford ainda mantinham a doutrina do ódio. Prova? A revista The Watchtower (A Torre de vigia), edição de 1.° de outubro de 1952, num extenso artigo intitulado "Jeová – Forte Refúgio Para Hoje", páginas 596-604, defende o "ódio" ao denominado mundo cristão, à cristandade, ali averbada de "inimigos de Deus". Reproduzamos alguns trechos:
"Os que aborrecem a Deus e a Seu povo [as Testemunhas de Jeová] devem ser odiados, mas isto não quer dizer que se busque urna chance de feri-los com espírito de maldade e rancor, porque estas coisas pertencem ao diabo, ao passo que o ÓDIO PURO não lhe pertence. Precisamos odiar ao mais completo sentido, o que vem a ser votar a mais viva e extrema aversão, considerar [os tais] como nojentos, odiosos e imundos, e detestar mesmo. Por certo os que aborrecem a Deus não estão capacitados para viver em Sua bela terra...
"Não haveremos, então, de aborrecer aos que aborrecem a Deus? Sim, não podemos amar esses inimigos odiosos, pois eles apenas servem para a destruição". (Grifos e versais nossos],
Mais adiante, no mesmo artigo, depois de citarem trechos dos salmos 74 e 59, em que Davi se refere aos inimigos, prosseguem no mesmo diapasão:
"Estes são os verdadeiros sentimentos, desejos e orações dos justos de hoje [as 'testemunhas de Jeová']. Não são também estes os vossos sentimentos? Como odiamos aos obreiros da iniqüidade, e aqueles que querem demolir a organização de Deus!...
"Os moabitas de hoje são os professos cristãos... os quais contra as Testemunhas de Jeová movem um ódio que não procede da justiça, mas do diabo. . . Detestam o crescimento do povo de Deus... Serão humilhados, porque Jeová liqüida com eles..."
Basta! Compare-se isto com o ensino de Jesus que manda amar os inimigos e orar pelos que nos perseguem. Hoje, no entanto, adotam a tática da cortesia estudada, e não dizem que "odeiam".
O Sr. William J. Schnell, autor do livro Trinta Anos Escravizado à Torre de Vigia, falando das alterações doutrinárias dos jeovistas, é taxativo:
"O Evangelho da Sociedade da Torre de Vigia sofreu três mudanças nos últimos setenta anos e, entre 1917 e 1925, a Sociedade da Torre de Vigia mudou 148 pontos de doutrina e interpretação". (W. 1. Schnell, Outro Evangelho, p. 24).
Nosso desiderato, ao radiografarmos o jeovismo, é mostrar o que se contém realmente em seu bojo, sem nutrir para com seus membros nenhuma animadversão, e para com o sistema nenhum odium theologicum. Este livro, contudo, destina-se a alertar os desavisados contra os enredos bem urdidos, com foros de verdade, mas que não passam de pitfalls armados ao longo do caminho do cristão.
Cremos que, conhecendo-se os pretensos fundamentos doutrinários da seita agressiva, e os fatos indesmentíveis que há no bojo do sistema, mais se reforça a convicção de que o ensino disforme e obtuso do jeovismo deve ser rejeitado. Daí a razão dessa radiografia que apresenta um retrato interior e transparente da esdrúxula seita, inclusive divulgando fatos pouco conhecidos no Brasil.
Conhecemos almas sinceras enredadas no sistema jeovista. Conhecemos outros que já o deixaram, desencantadas com sua escatologia e a lúgubre "esperança" de salvação que apregoa.
Destina-se o livro a reforçar a fé dos crentes em Cristo, "o qual é sobre todos, Deus bendito para todo o sempre. Amém". Rom. 9:5.
Que Deus ilumine os sinceros!

"SENHOR MEU E DEUS MEU"

Nosso objetivo, ao escrevermos estes capítulos, é reafirmar a Divindade de Jesus, negada ardorosamente pelas chamadas "testemunhas de Jeová", useiros e vezeiros em truncarem os textos das Escrituras e dar-lhes sentido distorcido. E o fazem procurando apoio nas línguas originais da Bíblia, no intuito de impressionar os menos avisados. Isto é o que se verifica nomeadamente nas traduções Novo Mundo e Diaglotão, não apenas na seu inseguro conteúdo textual como nos apêndices, rodapés e margens onde há comentários e referências de uma pobreza franciscana.

Em capítulos anteriores, esquadrinhamos e pulverizamos dois desses truncamentos: os de S. João 1:1 e 8:58. Consideremos agora a resposta pronta e decisiva do apóstolo Tomé diante da evidência concreta da ressurreição do Senhor, proclamando-Lhe a Divindade.

De forma alguma, porém, aceitam os jeovistas a clareza solar do texto, que se encontra em S. João 20:28, consistente nas seguintes palavras: "Respondendo-Lhe Tomé: Senhor meu e Deus meu?", importando numa adoração ao "Deus manifestado em carne".

A simples leitura textual não deixa dúvida quanto à Divindade de Cristo, proclamando de modo categórico, formal, incisivo. Mesmo assim, procuram os russelitas burlar o sentido claríssimo dessa afirmação, objetivando elidir a idéia da Divindade do Filho de Deus, com processos discutíveis. Contudo, em pura perda, e nesse particular, o tiro saiu-lhes pela culatra, como veremos.

Vamos recompor todo o verso, como se acha no original, literalmente traduzido entre linhas:

Apekrithe Thomas kai eipen auto ho Kyrios moy kai ho Theós moy

Respondeu Tomé e disse lhe (o) Senhor meu e (o) Deus meu.

A expressão de Tomé: "ho Theós moy" só pode ser traduzida por "Deus meu". Não há outra saída. Tanto assim que o próprio Diaglotão Enfático (massuda versão bilingüe usada à larga pelos jeovistas), à página 396 traduz "ho Theós moy" literalmente por "O Deus de mim" ou "meu Deus".

Mesmo os leitores leigos podem notar, no original grego, a presença do artigo "ho" tanto junto de "Kyrios" (Senhor) como junto de "Theós" (Jesus). A presença do artigo definido neste passo é muito importante porque, de acordo com o argumento dogmático das próprias "testemunhas de Jeová" – segundo o qual só a existência do artigo distingue o Deus Verdadeiro e Único Jeová, de um "deus" secundário, inferior - temos aqui a prova provada, que elas mesmas nos fornecem, de que Tomé se dirigiu ao Deus Único e Verdadeiro: Jesus, que é Um com Jeová. E assim, os jeovistas caíram dramaticamente na cilada do "artigo" que eles mesmos armaram.

E isto se comprova na Tradução Novo Mundo, em inglês, pois nela há um Apêndice à página 776, com a seguinte declaração:

"Assim também S. João 1:1 e 2 emprega no HO THEÓS para distinguir Jeová Deus, do verbo (Logos) como 'um deus', 'o unigênito de Deus' como S. João 1:18 o chama".

É uma confissão de que no texto em lide (S. João 20:28) a referência é a Deus Jeová mesmo!

A bem da verdade deve ser dito que essa declaração, diante dos legítimos cânones lingüísticos do grego, nada esclarece, e apenas reitera a idéia fixa ariana, com o objetivo confesso de negar, a todo custo, a Divindade de Jesus, pretendendo reduzi-Lo a um "deus" de segunda mão, criado em algum tempo.

Para pulverizar essa infâmia sacrílega bastaria este simples raciocínio. Se Tomé chamou a Cristo ressuscitado de Jeová (à vista da existência do artigo definido "ho" diante de "Theós', como querem os russelitas), e Cristo não protestou, não negou essa qualificação divina, mas a confirmou plenamente ao dizer, no verso 29: "Porque Me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram", então, amigos, nenhum malabarismo exegético, nenhuma distorção do texto, poderá alterar o pensamento básico, a saber, que Jesus Cristo é Jeová-Deus!

Há mais a considerar. A Tradução Novo Mundo em inglês evita cuidadosamente qualquer explicação ou comentário deste texto, mas registra na margem, à página 350, com asterisco (*) uma meia dúzia de passagens com referência a Cristo, que eles entendem mencioná-Lo como um "deus", e desta forma desprimorosa tentam engodar o leitor desprevenido. Apresentam-lhe textos que não têm correlação alguma com o versículo em causa, e são mencionadas abstratamente, sem sentido, sem lógica, sem adequação, numa confissão tácita de que o argumento vale zero.

O ponto capital é este: há outro "deus" além de Jeová?

As Escrituras só dão uma resposta: NÃO HÁ! Não há outro deus a não ser Jeová. Leia-se Isa. 45:21-23; 37:16-20; 44:8 e outros passos. Para sermos exatos, há muitos chamados "deuses" nas Escrituras, porém não são deuses pela identidade, pela existência própria, pela soberania, mas o são por aclamação e adoração humanas; são ídolos. O próprio Satanás caiu nesta categoria, e é chamado o "deus deste século".

Cristo, porém, é Deus – Um com o Pai, em substância, natureza e poder. Tomé, dizendo "Deus meu" adorou a Cristo como a ressurreta encarnação da Divindade: Jeová, único, eterno, verdadeiro na Pessoa do Filho, Deus manifestado em carne. O cúmulo do contra-senso é a seguinte interpretação que nas foi dada por um russelita: quando Tomé disse "Senhor meu" dirigia seu pensamento a Cristo que estava à sua frente, mas quando disse "Deus meu", dirigiu-se a Jeová, no Céu. Primeiramente a frase é uma só, ligada pela aditiva "kai" (e), isto é, "Senhor meu E Deus meu". Em segundo lugar, isto corre parelha com o sistema jesuíta das restrições mentais, da duplicidade, do bifrontismo por parte de Tomé, o que não aceitamos.

MAIS UMA FRAUDE

Há um texto da autoria do apóstolo S. Paulo, que exalta a soberania de Cristo como agente da Criação, proclamando-Lhe, de modo inequívoco, a Divindade:

Este é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a Terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dEle e para Ele. Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste. Col. 1:15-17.

É exatamente o que diz a Bíblia, nem mais nem menos. Como, porém, vamos lidar com uma grosseira falsificação, reproduzamos o texto original grego, com tradução interlinear ad litetam:

hos estin eikon tou theon tou asratou, prototokos pasés

o qual é imagem do Deus do invisível, primogênito de toda

ktiseos, hoti én auto ektisthe ta panta én tois ouranos

criação porque nEle criaram-se as todas as coisas em os céus

kai epi tes ges ... Ta panta di autou kai eis autún

e sobre a terra ... as todas as coisas por meio dele e para Ele

ektistai. Kai autós estin pró panton. Kai ta

se criaram. E Ele é antes de todas as coisas. E as

panta én auto unesteken.

todas as coisas em Ele subsistem.

Pois bem, com o objetivo de forçar o texto a dizer o que não diz e amparar suas heresias, as chamadas "testemunhas de Jeová" não se pejaram de ACRESCENTAR nele palavras apócrifas, que absolutamente não existem no original, e isto não constitui apenas violência ao texto e perversão das Escrituras, mas uma falsificação pura e simples. Vamos primeiramente citar o mesmo texto como se encontra na Tradução Novo Mundo, em inglês:

"Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação, porque por meio dEle todas as outras coisas foram criadas nos céus e sobre a terra... Todas as outras coisas têm sido formadas por meio dele e para Ele. Também Ele é antes de todas as outras coisas e por meio dEle todas as outras coisas foram tornadas existentes".

Neste trecho, a palavra "outras", que não consta do original, foi inserida quatro vezes sem nenhuma justificação. É uma excrescência, um acréscimo indevido, uma interpolação. Sem nenhum sentido, a não ser sugerir a errônea cristologia ariana. Na "traduçãozinha" Novo Mundo, Edição Brasileira, a palavra outras vem entre colchetes:

"Também, Ele é antes de todas as [outras] coisas e todas as [outras] coisas vieram a existir par meio dEle".

Procurando justificar esse disparate, a Tradução Novo Mundo em inglês traz um rodapé, assinalado com um (a) cada emprego da palavra "outras", indicando ao leitor que leia S. Luc. 13:2, 4, "e em outros lugares" em busca de apoio para essa tradução anti-gramatical. Contudo, lendo-se os textos indicados no grego verifica-se que também não consta a palavra "outras", embora algumas versões o consignem. Admitir-se-ia neste último caso, em que Jesus contrasta certos galileus com outros galileus; mas jamais seria admissível em Col. 1:15-17 inserir-se palavras apenas para provar ponto doutrinário, nem se trata aí de comparação de espécie alguma. É totalmente incabível, e não se pode citar o testemunho de nenhuma autoridade no grego para abonar um desconchavo tão gritante. Além do mais, todo o contexto é uma descrição exaltada e superlativa de Jesus como imagem do Deus invisível. Leia-se também S. João 1:3 e Heb. 1:3, e ter-se-á o sentido exato do que S. Paulo afirma.

Portanto, a inclusão da palavra "outras", mesmo entre colchetes, só tem o objetivo de referir-se a Jesus como igual às demais coisas criadas. A Bíblia comina uma praga apocalíptica para os que acrescentam palavras à Palavra de Deus. Apoc. 22:18. No caso em tela, se S. Paulo quisesse dizer "outras", teria escrito "(ta) alla", mas não o fez. E é em pilares como este que escoram suas doutrinas.

Desmascarada mais essa fraude jeovista, convém determo-nos um pouco sobre duas expressões por eles muito exploradas no deliberado intuito de justificarem a doutrina de que Cristo, em Sua existência pré-terrestre, foi "criado" por Deus, o Pai. A primeira encontra-se no texto em causa: "o primogênito de toda a criação" (Col. 1:15); a segunda, em Apoc. 3:14: "o princípio da criação de Deus". Procurando ligar estes dois textos com S. João 1:1, deturpado, concluem que Cristo foi "criado" e "teve um princípio".

Querem os jeovistas que "primogênito" signifique unicamente e exclusivamente "criado primeiro", antes da criação geral. Ora, se fosse realmente assim, S. Paulo teria escrito PROTOKTISTOS que é a palavra grega a significar exatamente "criado primeiro". No entanto o apóstolo dos gentios escreveu PROTOTOKOS, que significa coisa bem diferente, significa "primogênito". Note-se que tem o elemento "primo" que se refere tanto à posição como ao tempo. Isto é importante. Assim S. Paulo refere-se não somente à prioridade de Cristo sobre toda a criação, mas também à SUA SOBERANIA SOBRE TODA A CRIAÇÃO. "Gerado" e não "criado"' é o que está implícito no vocábulo. É uma primazia sobre as coisas criadas.

Aliás o abalizado J. H. Thayer, no seu velho léxico grego-inglês declara que "protos" "é primeiro, o Eterno". Idéia de prioridade e exaltação.

Os textos de modo algum indicam que Cristo fora um ser criado, a não ser no sentido físico (S. João 1:14) por ocasião de Sua encarnação (S. Luc. 1:35).

Em Apoc. 3:14, temos: "O princípio da criação de Deus" (Grego: he archê tês ktiseos tou theou). Houve tempo em que os russelitas interpretavam esta expressão como Cristo Se referindo a Si mesmo como "criado por Deus", mas dada a insustentabilidade desta posição em face do artigo "tou" na forma genitiva (de), viram-se forçados a aceitar a versão clássica "criação de Deus" a assim consta também da traduçãozinha brasileira" Novo Mundo, pois não ousaram verter "por Deus". Se o sentido fosse realmente "criação por Deus", haveria obrigatoriamente a preposição ypó. Tal, porém, não se dá. E recuaram, derrotados no grego!

Além disso, a palavra archê pode ser corretamente traduzida por "origem", e o sentido exato seria "a origem da criação de Deus". Tanto é esse o sentido que os jeovistas, na sua versão inglesa Novo Mundo (edição 1950), traduzem S. João 1:1 assim: "Originariamente era o Verbo". Archê, como princípio, dá idéia de origem, fonte primária. Convém reler S. João 1:3 para confirmação.

Acrescentaríamos ainda que primogênito encerra, em muitos casos, a idéia de importância e não de prioridade. Por exemplo: Em Êxo. 4:22, Israel é chamado primogênito, mas Esaú nasceu antes dele. Em Jer. 31:9, Efraim é chamado primogênito, contudo Manassés nasceu antes dele. Evidentemente o sentido é de importância, dignidade, eminência, e não circunscrito a um acidente genetlíaco. A esta altura recomendaríamos aos jeovistas "buscarem a sabedoria", a exercerem "os olhos do entendimento"!

Diríamos ainda que, da mesma fonte etimológica, nos vem a palavra "primícias" que se traduz por "primeiros frutos". No entanto Jesus é chamado "primícias dos que dormem", não no sentido de prioridade de tempo, porque houve ressurreições antes da dEle. O sentido é de dignidade, exaltação, eminência, soberania. Poderíamos invocar autoridades lingüísticas em abono desta verdade.

Reafirmamos nossa crença trinitariana, bíblica e cristã: Cristo é Deus, a Segunda Pessoa da Trindade.

Sentido Real de "Unigênito"

Outra palavra bíblica de que abusam é unigênito. É tradução do grego "monoguenes". No seu inglório empenho de firmar a Cristologia ariana, as "testemunhas" agarram-se também a esta palavra, e, com astúcia, conseguem, por vezes, engodar pessoas não bem informarias, levando-as à conclusão de que "unigênito" significa e tão-só "único gerado", "único filho" nascido de Deus. Partindo desta idéia errônea, sugerem que, desde que esta palavra se aplica a Jesus Cristo cinco vezes no Novo Testamento, a conclusão irreversível é de que Ele é uma criatura. E gostam de citar o texto de S. João 1:18 como se acha no Códice Alexandrino: "O único Deus gerado".

No entanto, por ignorância ou má fé, esquecem-se de que os mais autorizados léxicos e gramáticas, os quais, sem exceção, vertem "monogenes" por "só e único membro de uma raça ou espécie, daí ser único (mono)". Esta definição, a mais autorizada, foi extraída de Liddell and Scott Greek English Lexicon, Vol. 2, pág. 1.144.

Para reforçar a verdade dos fatos, citamos ainda os abalizados Moulton and Milligan, os quais, em seu vocabulário do grego do NT, páginas 416 e 417 traduzem:

"Monogenes: Um de uma espécie. Único. Singular".

Primogênito é no NT empregado no sentido da máxima exaltação de Cristo como Filho de Deus. Lemos em Rom. 8:29: "... a fim de que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos". E isto nada mais é do que uma ênfase à posição privilegiada e honradíssima de Cristo como o Irmão Mais Velho da família redimida por Ele. Não Se envergonha de nos chamar "irmãos". Heb. 2:11.

Há também a "igreja dos primogênitos", isto é, dos crentes que, por terem nascido de novo, formam a igreja invisível. A primogenitura indica sempre uma posição elevada. Pois bem, "unigênito" por seu turno, indica unicidade, singularidade, especialidade, alguém que é alvo de carinho especial. Tanto no grego clássico como no koiné (grego do NT) o termo monogenes traz a idéia de "único, solitário, só, único membro de uma família particular".

Convém notar a esta altura que a Septuaginta – tão do agrado dos jeovistas – também emprega a palavra "monoguenes" como equivalente ao adjetivo hebraico "yachid", que significa "solitário", e assim se acha em Salmo 68:6, por exemplo. Isto denota que os tradutores da Septuaginta viram em "monoguenes" o sentido de unicidade, daí o realce posto em "único", "só" ou "um" (mono) e não em genus.

Se as "testemunhas de Jeová" insistem que "unigênito" seja tão-só "único gerado", então como se arranjam com o texto de Heb. 11:17 que afirma ser Isaque o "unigênito" de Abraão? Pois a Bíblia regista que Abraão teve, pelo menos, 8 filhos: Ismael, o primeiro, nascida de Hagar; Isaque, nascido de Sara; e mais seis filhos nascidos de Quetura. Contudo, Isaque é denominado "unigênito", não por ser o único filho, o único gerado (que tal não é o caso), nem por ser o filho mais velho, mas por ser o filho dileto, o filho da promessa, e por isso Abraão o amava de modo especial.

"Este é Meu Filho amado, em quem Me comprazo". S. Mat. 3:17. "Eis o Meu servo, que escolhi, o Meu amado, em quem a Minha alma Se compraz". S. Mat. 12:18. Tal é o sentido de "unigênito".

Uma comprovação de peso é o insuspeito Thayer, por ser unitariano. No seu "Greek English Lexicon of the New Testament", página 417, declara:

"Monogenes: .. Único de sua espécie; único... (monos) aplicado a Cristo indica o único filho de Deus".

A insistência dos russelitas tem origem num fato que eles desconhecem, ou preferem ignorar: que monogenes (grego) não tem o mesmo sentido de unigenitus (latim).

A propósito, N. Klann, co-autor de "Jehovah of the Watchtower", naquela obra à página 417, faz a seguinte observação:

"Lamentavelmente, na literatura antiga a palavra monoguenes tornou-se indevidamente ligada ao temo latino unigenitus. No entanto, esta igualdade de sentido é basicamente incorreta e basta um sério estudo lexicográfico para a demonstrar".

Como já se disse e se reitera, o jeovismo é uma religião mais preocupada com nomenclatura do que com fatos.

"EXISTINDO EM FORMA DE DEUS"

As fraudes tradutórias das chamadas "testemunhas de Jeová" não se limitam ao abuso de verterem erroneamente ou truncarem os textos sagrados. Vão além e, quando não encontram na Bíblia um cabide em que dependurar suas idéias heréticas, recorrem então ao processo da subtileza, da especiosidade no sentido da frase sacra, forçando-a a amoldar-se ao esquema ariano, que nega a Divindade de Jesus.

Um caso típico temo-lo na versão que fazem do pensamento paulino exarado na carta aos filipenses, capítulo segundo, verso seis. Tão subtil que, lendo-o pela primeira vez na versão Novo Mundo – Edição Brasileira – confesso não ter dado com o engodo. Relendo posteriormente, com mais atenção, pudemos verificar o sentido sibilino que procuraram dar à soleníssima declaração do apóstolo, de exaltação a Cristo.

Para melhor esclarecermos os leitores, vamos primeiramente dissecar o texto original, com a tradução ao pé da letra:

hos én morphê theou uparchôn ouch

o qual em forma de Deus subsistindo não

arpagmon hegesato to einai isa theo.

usurpação julgou o ser igual Deus.

A frase acima, devidamente transposta, na ordem lógica, e na índole da nossa língua, assim fica, com absoluta correção:

"O qual, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação ser igual a Deus".

Como é óbvio, até uma criança entende o que aí se acha escrito. Salta aos olhos o sentido de que Cristo, sendo da natureza de Deus, Ele não considerou este fato uma usurpação, uma coisa indevida, uma coisa a que não tinha direito e por isso – diz o versículo seguinte – esvaziou-se, assumindo forma humana. Sem perder Sua Divindade, adquiriu a humanidade.

O helenista William C. Taylor, na sua obra didática "Introdução ao Estudo do Grego do Novo Testamento", edição 1948, página 363, assim traduz Fil. 2:6.

"O qual, existindo essencialmente em natureza de Deus não considerou o estar em pé de igualdade com Deus uma presa..."

E a seguir, explicando a razão de ter usado a palavra "presa" acrescenta: "presa (o ser cobiçado e retido como a leoa segura a presa ou o salteador o seu espólio)". O sentido da palavra grega arpagmon é de amplitude difícil de ser transposta com justeza no português. Há traduções que rezam: "coisa de que não devesse abrir mão" (a Divindade, o ser igual a Deus). Cristo não considerou o ser igual a Deus uma coisa de que não devesse abrir mão, e então resolveu baixar até ao homem.

Contudo, a despeito da clareza meridiana do texto, os jeovistas na sua subtradução brasileira (?) vertem:

"O qual, embora existisse em forma de Deus não deu consideração a uma usurpação, a saber, que devesse ser igual a Deus".

Notaram os leitores como o sentido é totalmente diferente? Com esse flagrante e grosseiro torcimento procuram impingir a idéia de que Cristo despreza a Divindade, não Lhe interessando ser igual a Deus. Na Tradução Novo Mundo, em inglês, transpõem o pensamento paulino de maneira pior:

"Cristo Jesus, embora existisse na forma de Deus não deu nenhuma atenção a uma CAPTURA, isto é, a ser igual a Deus".

E há ainda uma nota, no inglês, que comenta: "Embora existisse em forma de Deus, desprezou..." E outra nota atribui à palavra grega arpagmon (usurpação, retenção) o sentido de "apreensão, uma coisa que pode ser apreendida". Desta maneira torcem a linguagem neotestamentária a fim de forçá-la a combinar com a seu unitarismo, ou seja, incutindo o sentido de que Cristo não era igual a Deus a até mesmo desprezou esta igualdade.

Descendo ao terreno da argumentação, clamam os jeovistas que a expressão em forma de Deus significa meramente uma "semelhança", uma "figura externa", e que isto eles admitem. Nisto, porém, revelam-se apedeutas, desconhecedores da índole, da força expressional do grego.

O citado W. C. Taylor, na mesma abra, página 393, afirma, com relação ao texto em lide:

" 'Morphê', significa forma, implicando caráter e natureza essenciais. Está em contraste com schêma que significa figura, semelhança exterior e efêmera. Morphê salienta a natureza divina e real humanidade de Jesus em Fil. 2:6 e 7, e schêma salienta a fase passageira de sua humilhação".

Ora, a palavra "forma" que aparece em Fil. 2:6 é exatamente morphê, indicando a natureza divina de Cristo. No verso 7, a palavra para designar a figura humana de Cristo é, então, schêma. É preciso "buscar a sabedoria" e ver com "os olhos do entendimento"!

Para reforço do que estamos explicando, invoquemos o que escreveu Sabatini Lalli, em sua obra "O Logos Eterno", página 38:

"No texto de Fil. 2:6-11, ocorrem duas palavras cujo sentido deve ser notado, porque revelam o propósito definido que Paulo tinha em mente: 'morphê' e 'schêma'. A palavra 'morphê' significa 'forma' e envolve também a idéia de 'substância. ou 'essência'. A palavra 'schêma', por outro lado, tem, entre outros, o sentido de 'forma', 'aparência', 'semelhança' e 'figura'. Sófocles, por exemplo, empregando a palavra 'schêma', escreveu: 'tyrannon schêma échein' (tem ares ou aparência de rei). Isto significa que qualquer pessoa pode ter 'ares' ou 'aparência' de rei, sem ser, necessariamente, rei! A palavra 'morphê' portanto, em contraste com 'schêma', denota a toma que é a expressão externa de determinada substância e essa forma é concebida como intimamente relacionada com a natureza dessa substância. ... Ao dizer que Cristo Se aniquilou, Paulo não está dizendo que Ele renunciou a Sua natureza divina, mas que renunciou apenas a forma ou o modo de Sua existência como Deus. Como Logos ásarkós (Verbo não encarnado), Cristo é Deus existindo na forma ou no modo de existência divina; como Logos énsarkós (Verbo encarnado), Cristo é Deus existindo na forma, isto é, na essência ou substância da natureza humana".

Afirma ainda Taylor, na obra citada, p. 309, que a palavra uparchôn, forma gerundial do verbo "uparchô, sou, existo, indica uma condição essencial ou original que perdura, em contraste com o fugaz ou acidental". É correta a tradução de "subsistindo anteriormente", "existindo essencialmente" e conexas. Por que tal é o sentido implícito no grego.

Um helenista profundo, J. H. Thayer, insuspeito por ser unitariano, na seu famoso Thayer's Greek English Lexicon of the New Testament, edição 1889, explica a passagem de Fil. 2:6 da seguinte maneira:

"(Cristo Jesus) que embora (quando previamente era Lógos asarkós) teve a forma (em que apareceu aos habitantes do Céu) de Deus (o soberano, oposto morphê dóulou) todavia não julgou que essa igualdade com Deus devia ser zelosamente segurada ou retida". - p. 418, coluna b.

Ora, isto é importante, principalmente porque os jeovistas citam a Thayer como autoridade (e de fato o é)! Pois bem, mirem-se nele na exposição desta passagem!

Arthur S. Way, hábil tradutor de clássicos gregos, em "The Epistles of St. Paul" (edição 1921), página 55, assim traduz o passo:

"Ele mesmo, quando subsistia na forma de Deus, não se agarrou egoisticamente à Sua prerrogativa de igualdade com Deus..."

E o erudito G. B. Phillips, em Epistles to New Churches, 1948, página 113, em tradução perifrástica, assim verte o texto:

"Porque Ele, que sempre fora Deus por natureza, não se ateve às Suas prerrogativas de igualdade com Deus, mas despiu-se de todo o privilégio, consentindo tornar-Se escravo por natureza e nascendo como homem mortal".

Diante dessa nuvem de testemunhas, as mais autorizadas, verdadeiras sumidades na língua original do Novo Testamento, em que fica o arremedo de tradução, o mistifório jeovista?

Respondam os sensatos.

DUAS SUBTILEZAS DESMASCARADAS

Prosseguindo o esquadrinhamento das anomalias verificadas nas traduções editadas ou perfilhadas pelas denominadas "testemunhas de Jeová", vamos espatifar duas fraudes grosseiras que elas cometem em textos do NT.

A primeira versão dolosa apura-se em Tito 2:13 que na traduçãozinha de fancaria rotulada de "Novo Mundo, Edição Brasileira", assim consta:

"Ao passo que aguardamos a feliz esperança e a gloriosa manifestação do grande Deus e de nosso Salvador, Cristo Jesus".

Na tradução básica jeovista, em inglês, também está exatamente assim. Com um pouco de atenção, os leitores podem observar que o empenho dessa tradução errônea é forçar o texto a estabelecer duas "manifestações" distintas, separadas, estanques:

"do grande Deus", e

"de nosso Salvador, Cristo Jesus".

Por que cometeram este crime tradutório que desborda flagrantemente do sentido natural, lógico e gramatical do texto? Simplesmente, como não podia deixar de ser, para elidir dele a Divindade de Jesus, porquanto a tradução correta só aponta para uma única "manifestação": da glória do nosso glande Deus e Salvador Cristo Jesus. A referência é a uma única Pessoa, mas como isso não convém ao unitarismo enfermiço dos modernos russelitas, então, a golpes de martelo, inescrupulosamente, produziram essa grave falsificação no texto bíblico, forçando-o a dizer o que não diz.

Prova? Vamos, antes de mais nada, copiar o original, com tradição adesiva:

prosdechómenoi tén makarian elpida kai epiphaneian thês

aguardando a bem-aventurada esperança e manifestação da

doxes tou megalou theou kai sotéros hemon Christou Iesou.

glória do grande Deus e Salvador nosso Cristo Jesus.

Aí temos o sentido natural, não forjado nem desvirtuado: Deus e Salvador, única Entidade. Mas a "tradução" genial que os não menos geniais rutherfordistas apresentam, separando dolosamente "o grande Deus" do "nosso Salvador Cristo Jesus", além de fugir da exatidão do texto, entra em choque flagrante com reconhecida "regra de Sharp". Quantos estudam o grego sabem que esta regra gramatical estabelece: "quando a conjunção aditiva KAI (que corresponde ao "e", em português) liga dois nomes do mesmo caso, se o artigo vem antes do primeiro nome e não é repetido antes do segundo nome, este último SEMPRE SE REFERE À MESMA PESSOA descrita pelo primeiro nome".

Evidentemente, dentro deste cânone lingüístico do grego e para ser absolutamente correto, este versículo da carta de S. Paulo a Tito refere-se necessariamente a uma só Pessoa: "grande Deus e Salvador Jesus Cristo". É inadmissível, incabível e aberrante qualquer outra tradução!

O grande erudito helenista BRUCE M. METZGER, catedrático americano, em seu trabalho "Jehovah's Witnesses and Christ", página 86, considerando exaustivamente este caso, conclui documentalmente:

"E ainda em apoio da tradução 'Deus e Salvador Jesus Cristo' podemos citar eminentes gramáticos da grego do Novo Testamento, catre outros os seguintes:

1. P. V. Schmiedel, Grammatik Des Neutestamentlichen Sprach-idoms, p. 158;

2. G. H. Moulton, A Grammar of Greek New Testament, vol. I p. 84;

3. A. T. Robertson, A Grammar of the Greek New Testament in the Light of Historical Research, pp. 785 e 786:

4. Blass-Debrunner, Grammatik Des Neutestamentlichen, parágrafo 278, 3.

Estes eruditos estão de acordo em afirmar que em Tito 2:13 há referência a somente uma Pessoa e, portanto só pode ser traduzido 'nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo'."

Diante disto, o mistifório jeovista reduz-se a cinzas.

E para completar o desmascaramento desse desconchavo grosseiro e absurdo, invoquemos a tradução "Emphatic Diaglott" muitíssimo citado e propagado pelas próprias "testemunhas de Jeová", a qual assim verte Tito 2:13:

"Esperando a bendita esperança, mesmo o aparecimento da glória de nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo".

E assim, com suas próprias armas se suicidam os semeadores de erros.

Mas, não param aí. O mesmo erro intencional, a mesma fraude grosseira, a mesma improbidade se repete na transposição de II S. Pedro 1:1, última parte, que assim consignam na sua "traduçãozinha" brasileira do NT:

"Pela justiça de nosso Deus e do Salvador Jesus Cristo".

E assim, de novo, ao arrepio da "regra de Sharp", os jeovistas inescrupulosamente fazem referir duas justiças: uma "de nosso Deus", e outra "do Salvador Jesus Cristo". Na grego, porém, está simplesmente:

dikaiosune tou Theou hemon kai Sotêros Iesou Christou.

justiça do Deus nosso e Salvador Jesus Cristo.

Tudo quanto dissemos em relação ao primeiro passo, lesado e desfigurado pelos neo-russelitas, é igualmente aplicável a este último texto, o qual, também, de modo inequívoco, proclama a Divindade ou Deidade de Jesus dizendo simplesmente:

"... de nosso Deus e Salvador Jesus Cristo".

Uma única Pessoa no sentido gramatical. Um só Deus. Uma Entidade Divina. Referência a Cristo somente, como Deus, pessoa no sentido teológico, da Divindade.

Graças a Deus que é assim!

LIGEIRO ESTUDO DE PROVÉRBIOS 8:22-24

Em seu livro de Provérbios, capítulo 8, Salomão compõe interessante parábola, ou melhor, uma alegoria para descrever a excelência da sabedoria. Em linguagem figurada, descreve o surgimento da sabedoria, sua antigüidade inescrutável, sua participação na criação, seu valor inapreciável e seu regozijo com os homens. É o passo do Velho Testamento que as pseudo testemunhas de Jeová exploram abusivamente para tentarem demonstrar que Cristo fora criado.

A tradução feita por eles é esta ou semelhante a esta:

"Jeová me fez na começo do seu caminho, antes das suas obras da antigüidade". (verso 22).

E nisto querem seguir a Versão das LXX, ou Septuaginta, toda em grego, que consigna: "O Senhor me criou...", da qual os arianos tanto abusaram com o fim de defenderem seu estrambótico unitarismo. E desta forma forçam o verbo hebraico qânâh (que no texto aparece numa forma imperfeita e pronominal qananî ) a ter o sentido de "criar" ou "fazer". Ora, isto é insustentável, e podemos afirmar, com absoluta segurança, serem errôneas neste ponto, tanto a versão Septuaginta como a dos jeovistas.

Os especialistas em línguas semitas, destacando-se o douto F. C. Barney, afirmam que o verbo hebraico qânâh tem o sentido de "gerar" (coisa bem diferente de "criar", como veremos adiante), "obter" e especialmente o sentido de "possuir"; nunca, porém, o de "fazer" ou "criar". Trata-se aí de um equívoco da versão dos Setenta, endossado pelos jeovistas.

Para maior compreensão, vamos recompor os três versículos em debate, grafando o original hebraico transliterado com a tradução colada, ipsis verbis:

YEHVEH QANANÎ RÊI'SHITH DARKÔ

o Senhor (me) possuía (no) princípio (de) (seu) caminho

QÊDHÊN MIPHALAIV MÊ'AZ.

(da) antigüidade (suas) obras desde.

MÊ'ÔLAM NISSAKTI MÊR'ISH

Desde a eternidade fui ungida desde a origem

MIQQADMAI-'REÇ

antes do começo (da) Terra

Be'YN-TeHIMÔTH CHOLALTI.

Quando (não havia) profundezas fui gerada.

Transpostos, logicamente, em bom português, teremos:

"O Senhor me possuía no início de Seu caminho, desde as suas obras mais antigas. Desde a eternidade fui ungida, desde a origem, antes de existir a Terra. Fui gerada antes que houvesse abismos".

A chave do sentido encontra-se na exata tradução dos verbos. Analisemos os três casos que estamos considerando:

1.° No versículo 22 aparece o verbo qânâh, cuja tradução mais exata é possuir, no imperfeito. A propósito, "o Novo Comentário da Bíblia" de F. Davidson, comentando o versículo, afirma:

"Possuiu, tradução dada pelas versões em português, significaria que desde o princípio a sabedoria de Deus estava com Deus: Deus é chamado de o Possuidor (raiz qânâh) dos céus e da Terra, em Gênesis 14:19 e 22 . (...)

"A referência aqui não é que a Sabedoria foi o primeiro ser criado, pois a sabedoria de Deus certamente é inseparável dEle; pelo contrário, devemos entender por isso que a Sabedoria estava com Ele desde toda a eternidade".

2.° No versículo 23, aparece o verbo nassak, que alguns vertem por "estabelecer". Traduzimo-lo num particípio passado. Os melhores léxicos hebraicos lhe dão vários sentidos: (1) "derramar", (2) "fazer libações", (3) "instalar", (4) "tecer', (5) "ungir". A tradução Almeida clássica. verteu-o por "ungir", que preferimos, embora o erudito B. Metzger admite que a raiz sãka significa "unir estreitamente", o que também aceitamos e valoriza a tese que defendemos. O comentário bíblico de Davidson, já citado, assim comenta o verso 23:

"Ungida pode referir-se à nomeação da Sabedoria, por Deus, para Sua tarefa. Essa palavra é usada no sentido de consagrar... A sabedoria precedeu todos as seres criados e até mesmo as profundezas primevas. Mas isso ainda não é tudo. A sabedoria não só esteve presente na criação, mas serviu de medianeira na mestra".

3.° No versículo 24 há o verbo chul a que os bons dicionários dão o sentido de "contorcer", "agitar", "tremer" e, em pouquíssimos casos, "gerar". Qualquer que seja o sentido de chul (chôlalti devido à desinência), é todavia incabível dar-lhe sentido de um nascimento físico, pelo fato de toda a passagem ser uma espécie de parábola. O sentido é metafórico, figurativo e isso é importante. Também estaria dentro da lógica do hebraico traduzir-se: "Antes de haver abismos, eu vibrei". Cremos honestamente que o que Salomão quis dizer, referindo-se à Sabedoria de Deus foi isto:

"Eu estava com Deus no princípio (e isto concorda plenamente com S. João 1:2: "Ele eslava no princípio com Deus") ou no princípio de Seus caminhos, ou de Seus planos na insondável economia divina. Desde a eternidade fui ungida, desde a princípio (...) Apareci antes de haver abismos".

Tudo, porém, indica incomensurabilidade de tempo, pois a linguagem metafórica do texto indica a eternidade da sabedoria, ou de Cristo: sempre presente em Deus, em qualquer tempo presente com Deus, desde a eternidade presente com Deus, fusionada com Deus.

Replicam as chamadas testemunhas de Jeová que as expressões "antes das obras antigas", "antes do começo da Terra" e semelhantes por si só indicam um tempo em que Cristo surgira e, portanto, fora criado. O argumento não colhe. No Salmo 90, por exemplo, Jeová também é referido desta forma:

"Senhor [no original: Jeová] (...) antes que os montes nascessem e se formassem a Terra e o mundo (...) tu és Deus".

E aqui os neo-russelitas não interpretam que Jeová haja sido criado em algum tempo antes da formação do mundo. Por que não o fazem?

Também em Dan. 7:9 e 13, Deus o Pai, como supremo Juiz, é descrito como o "Ancião de Deus"; contudo Ele é eterno. Ninguém admitiria que, pelo fato de ser metaforicamente descrito como uma Entidade "de dias", haja Ele tido um começo ou um nascimento. A Bíblia deve ser interpretada com bom senso e imparcialidade, distinguido o figurativo do real. Para fugirem à evidência, os jeovistas não aceitam a interpretação correta do "Ancião de Dias".

O douto Bruce Metzger, referindo-se à pretensão dos jeovistas em relação a Prov. 8:22, aduz:

"É um caso flagrante de exegese estrábica abandonar a corrente representação neotestamentária de Jesus Cristo como Ser incriado, e lançar mão de uma interpretação contestada de um versículo do Velho Testamento como se ele fosse a única descrição satisfatória dEle. A metodologia própria é, sem dúvida, começar com o Novo Testamento, buscando neles vislumbres, tipos e profecias cumpridas em Jesus Cristo". – Jehovah Witnesses and Christ, p. 87.

Aí está o caminho sensato e correto que os jeovistas deveriam seguir, para não inverterem a pirâmide.

Judiciosamente o SDA Bible Commentary faz a seguinte consideração sobre a passagem em lide:

"A passagem é alegórica, e deve-se exercer muito cuidado em não forçar uma alegoria além daquilo que o escritor do original tinha em mente. As interpretações extraídas dela têm que estar sempre em harmonia com a analogia das Escrituras. Alguns têm buscado aqui apoio para a idéia de que houve um tempo em que Cristo não existia, e que Ele fora criado, ou gerado pelo Pai como o princípio de Sua obra em estabelecer um Universo ordenado e habitado. São incabíveis conclusões dogmáticas extraídas de passagens figurativas e parabólicas. Os resultados desvirtuados desse procedimento podem ser vistos, por exemplo, na interpretação popular da parábola do rico e Lázaro (S. Luc. 16:19-31). A comprovação de crenças doutrinárias sempre deve ser buscada nas declarações textuais, literais da Bíblia. E declarações explícitas sobre o assunto em causa acham-se em Miquéias 5:2; S. João 1:1; 8:54 e outros lugares. Conquanto haja, sem dúvida, uma referência a Cristo, Ele aí é apresentado na figura da sabedoria. Outro exemplo de aplicação figurada ver em Ezeq. 28 onde o 'rei de Tiro' é, em parte, apresentado como figura de Satanás".

O Sr. A. Neves de Mesquita, em seu livro "A Doutrina da Trindade no Velho Testamento", pp. 135 e 136, assim comenta a sentido da alegoria de Salomão, destacando cinco pontos:

"O ápice desta alegoria encontra-se no capítulo 8, versos 22-31. (1) No princípio de tudo, era a sabedoria; (2) ela estava no princípio com o Senhor, e 'foi ungida antes que a Terra tivesse seus fundamentos lançados; (3) foi gerada antes que a Terra existisse, 'e antes que os montes se elevassem' já existia; (4) quando a Senhor preparava o cosmos, lá estava ela, e antes dos fundamentos da Terra serem postos, lá a sabedoria se fazia ouvir; (5) ela era a alegria do Senhor, e, como se alegraram os anjos, pela fundação do Universo, assim se alegrava a sabedoria pelo surgimento das coisas".

Concluir que a alegoria de Provérbios 8 prove a criação ou o nascimento de Cristo é vesguice exegética, ou oposição enfermiça à Divindade do Filho de Deus!

À luz de tolas estas informações, não é difícil entender-se o sentido de Prov. 8:22-24.

Que Deus ilumine os sinceros!