Outra palavra bíblica de que abusam é unigênito. É tradução do grego "monoguenes". No seu inglório empenho de firmar a Cristologia ariana, as "testemunhas" agarram-se também a esta palavra, e, com astúcia, conseguem, por vezes, engodar pessoas não bem informarias, levando-as à conclusão de que "unigênito" significa e tão-só "único gerado", "único filho" nascido de Deus. Partindo desta idéia errônea, sugerem que, desde que esta palavra se aplica a Jesus Cristo cinco vezes no Novo Testamento, a conclusão irreversível é de que Ele é uma criatura. E gostam de citar o texto de S. João 1:18 como se acha no Códice Alexandrino: "O único Deus gerado".
No entanto, por ignorância ou má fé, esquecem-se de que os mais autorizados léxicos e gramáticas, os quais, sem exceção, vertem "monogenes" por "só e único membro de uma raça ou espécie, daí ser único (mono)". Esta definição, a mais autorizada, foi extraída de Liddell and Scott Greek English Lexicon, Vol. 2, pág. 1.144.
Para reforçar a verdade dos fatos, citamos ainda os abalizados Moulton and Milligan, os quais, em seu vocabulário do grego do NT, páginas 416 e 417 traduzem:
"Monogenes: Um de uma espécie. Único. Singular".
Primogênito é no NT empregado no sentido da máxima exaltação de Cristo como Filho de Deus. Lemos em Rom. 8:29: "... a fim de que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos". E isto nada mais é do que uma ênfase à posição privilegiada e honradíssima de Cristo como o Irmão Mais Velho da família redimida por Ele. Não Se envergonha de nos chamar "irmãos". Heb. 2:11.
Há também a "igreja dos primogênitos", isto é, dos crentes que, por terem nascido de novo, formam a igreja invisível. A primogenitura indica sempre uma posição elevada. Pois bem, "unigênito" por seu turno, indica unicidade, singularidade, especialidade, alguém que é alvo de carinho especial. Tanto no grego clássico como no koiné (grego do NT) o termo monogenes traz a idéia de "único, solitário, só, único membro de uma família particular".
Convém notar a esta altura que a Septuaginta – tão do agrado dos jeovistas – também emprega a palavra "monoguenes" como equivalente ao adjetivo hebraico "yachid", que significa "solitário", e assim se acha em Salmo 68:6, por exemplo. Isto denota que os tradutores da Septuaginta viram em "monoguenes" o sentido de unicidade, daí o realce posto em "único", "só" ou "um" (mono) e não em genus.
Se as "testemunhas de Jeová" insistem que "unigênito" seja tão-só "único gerado", então como se arranjam com o texto de Heb. 11:17 que afirma ser Isaque o "unigênito" de Abraão? Pois a Bíblia regista que Abraão teve, pelo menos, 8 filhos: Ismael, o primeiro, nascida de Hagar; Isaque, nascido de Sara; e mais seis filhos nascidos de Quetura. Contudo, Isaque é denominado "unigênito", não por ser o único filho, o único gerado (que tal não é o caso), nem por ser o filho mais velho, mas por ser o filho dileto, o filho da promessa, e por isso Abraão o amava de modo especial.
"Este é Meu Filho amado, em quem Me comprazo". S. Mat. 3:17. "Eis o Meu servo, que escolhi, o Meu amado, em quem a Minha alma Se compraz". S. Mat. 12:18. Tal é o sentido de "unigênito".
Uma comprovação de peso é o insuspeito Thayer, por ser unitariano. No seu "Greek English Lexicon of the New Testament", página 417, declara:
"Monogenes: .. Único de sua espécie; único... (monos) aplicado a Cristo indica o único filho de Deus".
A insistência dos russelitas tem origem num fato que eles desconhecem, ou preferem ignorar: que monogenes (grego) não tem o mesmo sentido de unigenitus (latim).
A propósito, N. Klann, co-autor de "Jehovah of the Watchtower", naquela obra à página 417, faz a seguinte observação:
"Lamentavelmente, na literatura antiga a palavra monoguenes tornou-se indevidamente ligada ao temo latino unigenitus. No entanto, esta igualdade de sentido é basicamente incorreta e basta um sério estudo lexicográfico para a demonstrar".
Como já se disse e se reitera, o jeovismo é uma religião mais preocupada com nomenclatura do que com fatos.
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