A DATA CRUCIAL DE 1975
As chamadas Testemunhas de Jeová, nos últimos anos, em seus escritos e especialmente em suas palestras e estudos orais, têm dado muita ênfase à data de 1975, como ano decisivo "nos planos de Jeová". Nos seus contatos missionários diziam abertamente que surgiria o Armagedom e até outubro desse ano tudo estaria consumado na Terra, seria o início do milênio sabático, coincidindo com seis mil anos da existência do homem. Em sua literatura proselitista, essas afirmações, embora não categóricas, são insinuadas de forma bem persuasiva. Transcrevemos algumas dessas declarações, extraídas do livro Vida Eterna – na Liberdade dos Filhos de Deus, editado em 1966.
Página 29:
"Os seis mil anos desde a criação do homem terminarão em 1975 e o sétimo período de mil anos da história da vida humana começará no outono (segundo o hemisfério setentrional) do ano de 1975 E.C. (...) Quão apropriado seria se Jeová-Deus fizesse deste vindouro sétimo período de mil anos um período sabático de descanso e livramento, um grandioso sábado de jubileu para se proclamar liberdade através da Terra e todos as seus habitantes!"
Página 30:
"Não seria por mera acaso ou acidente, mas seria segundo o propósito amoroso de Jeová-Deus que o reinado de Jesus Cristo, o Senhor do sábado, correspondesse ao sétimo milênio da existência do homem".
Página 57:
"O atual sistema de coisas fútil da humanidade escravizada será completamente eliminado, e então o sistema divino de libertação assumirá o controle completo sobre a Terra".
No mesmo livro há exaustiva Tabela de Datas Significativas, que assim conclui:
Era Cristã Ano do Mundo
1975 6.000 – Fim do 6.° dia de mil anos de existência
do homem (em princípios de outubro)
2975 7.000 – Fim do 7.º dia de mil anos.
Fica claro, portanto, que, segundo essas declarações, e as palestras e estudos verbais apresentados pela seita, o Armagedom estaria terminado antes de outubro de 1975, seguindo-se o início do milênio sabático, o sétimo e último, a consumação dos séculos, o livramento jubilar, o reinado de Cristo com os 144.000 no decurso desse milênio. E não haverá um oitavo milênio.
Nada, porém, acontece cm 1975. Por quê? Simplesmente porque o cálculo profético dos jeovistas baseou-se em duas falsas premissas. Primeiro, o conceito errôneo do "dia-milênio". Segundo, uma falsa cronologia da criação do homem. Vamos analisá-las a seguir.
É Bíblico o Dia Milenar?
Seria correto deduzir dos textos de Sal. 90:4 e II S. Ped. 3:8 que cada dia profético vale mil anos?
Respondemos convictamente: Não, não é correto. Não há o menor fundamento para isto. Seria um falseamento dos princípios exegéticos.
1. Esses textos não estabelecem uma medida de tempo profético, nem sugerem uma EQÜIVALÊNCIA, mas apenas uma COMPARAÇÃO. Que isto fique bem frisado. Citemos o primeiro versículo, da versão Revista e Atualizada:
"Pois mil anos, aos teus olhos, são como o dia de ontem que se foi e como a vigília da noite." (Sal. 90:4)
a) O contexto do Salmo esclarece sobejamente o sentido do versículo: a brevidade da vida humana em comparação com a eternidade de Deus. Comparação e não equivalência, pois esta redundaria em absurdo como se verá.
b) A palavra "mil," no caso, é um hebraísmo (maneira de expressar própria da língua hebraico), que designa uma grande quantidade indefinida. Eis um exemplo clássico: "Caiam mil ao teu lado, e dez mil à tua direita, tu não serás atingido" (Sal. 91:7). É evidente que a palavra mil aí não é expressão aritmética, mas apenas uma figura literária indicando quantidade indefinida, embora grande.
c) Documentemos isto com mais exemplos:
"... um dia nos Teus átrios vale mais do que mil". Sal. 84:10.
"mil homens fugirão pela ameaça de apenas um". Isa. 30:17.
"nem a uma das mil coisas lhe poderá responder". Jó 9:3.
"Entre mil homens achei um como esperava". Ecles. 7:28.
"um só perseguir mil, e dois fazer fugir dez mil". Deut. 32:29.
"o mais pequeno virá a ser mil". Isa. 60:22.
A palavra "mil" é idiomatismo do Hebraico que, além de significar o numeral ordinal, significa também, por extensão de sentido, uma quantidade elevada indefinida. É usual no Velho Testamento, e em nenhum dos exemplos apontados poderá significar uma numeração exata.
2. O original também esclarece muito o exato sentido do texto. No hebraico lemas: 'êleph (mil) shaniym (nos) bcêy-neypha (aos olhos Teus) keyom (COMO o dia) éthemôl (último) kiy (que) içabir (se apresentou).
Mesmo leigo notará que "como o dia," no hebraico é KE-yom, sendo a conjunção KE correspondente a COMO. É, portanto, nitidamente comparativa. Apenas comparativa. Eqüivale à conjunção grega hôs, e assim a Septuaginta (texto do Velho Testamento em grego, iniciado em Alexandria no séc. III A.C.) a verteu.
Como a comparação é sobre a brevidade da vida humana, o mesmo verso a compara ainda "COMO a vigília da noite". Convém notar mais o seguinte: o sistema de 4 vigílias com duração de aproximadamente três horas cada, vigente nos tempos de Cristo, se estabeleceu pela influência greco-romana. Nos recuados tempos bíblicos do VT, a noite dividia-se em três vigílias de maior duração, sendo que a primeira ia do pôr-do-sol à meia-noite, a segunda da meia-noite ao cantar do galo, e a última desse limite até ao amanhecer (Êxo. 14:24; Juí. 7:19; Lam. 2:19). Essas vigílias não tinham uma duração rigorosamente matemática, pois a primeira quase eqüivalia às duas últimas. Isto é importante, porque jamais poderia servir para indicar um período profético exato. Portanto, a expressão "como a vigília da noite" é apenas comparativa a um tempo indefinido. Comparação a um tempo que se escoa, que deflui, que passa, que transcorre certo mas indefinido. Nunca, porém um lapso de tempo cronometrado, exato, aritmético e fatal.
a) No mesmo salmo a conjunção comparativa hebraica ke surge em outros passos:
Verso 5: "... são COMO um sono..." são "COMO a relva".
Verso 9: "nossos dias... nossos anos COMO um breve pensamento".
b) Em outros salmos:
37:2: "murcharão COMO a erva verde".
72:16: "floresçam os habitantes COMO a erva da terra".
92:7: "os ímpios brotam COMO a erva".
92:12: "o justo florescerá COMO a palmeira... COMO o cedro do Líbano".
Ainda outros textos poderíamos alinhar. Conclusão: "mil" é hebraísmo, e "como" é conjunção comparativa, nada indicando medida profética de tempo.
3. Citemos o segundo texto. Está assim na versão Revista e Atualizada:
"... para o Senhor um dia é COMO mil anos e mil anos COMO um dia". (II S. Ped. 3:8.)
A ênfase é nossa. O próprio contexto esclarece o sentido: aos impacientes quanto à vinda de Cristo, Pedro fala da longanimidade divina que quer dilatar o tempo desse grandioso acontecimento para que todos cheguem ao arrependimento, se possível. A palavra grega hôs aí é meramente comparativa. Jamais poderia estabelecer uma equivalência, porque então chegaríamos a este absurdo: mil anos na Terra correspondem a um dia no Céu, e lá então existe tempo.
E o grego ainda nos ajuda muito neste ponto. Por exemplo, hôs em S. Mar. 5:13 significa "aproximadamente", "cerca de", "mais ou menos" (dois mil porcos). Por quê? Porque há uma regra gramatical que estabelece: diante de numerais, "hôs" significa "mais ou menos", "cerca de", "perto de", "condição semelhante" e 'idéias afins". E vamos exemplificar biblicamente:
Em S. Mar. 4:26: "O reino de Deus é ASSIM COMO (hôs) se um homem lançasse a somente à terra", Seria o mesmo que dizer: "O reino de Deus É COMPARADO A"
Em S. Mat. 10:16: "Eu vos envio COMO (hôs) ovelhas no meio de lobos". O sentido é: "numa condição semelhante" a ovelhas entre lobos.
Em Rom. 5:8 "andai COMO (hôs) filhos da luz". O sentido é: "ao estilo de", "comportando-vos como" filhos da luz.
Em Apoc. 8:8: "O segundo anjo tocou a trombeta, e uma COMO QUE (hôs) grande montanha. . . . " O sentido de hôs aí é: "coisa parecida".
Em Heb. 7:9: "E POR ASSIM DIZER (hôs) também Levi..." Trata-se, é evidente, de meras comparações, nunca equivalências matemáticas.
O sentido correto de II S. Ped. 3:8 é: "para o Senhor um dia é POR ASSIM DIZER mil anos, e mil anos COMO SE FOSSEM um dia". Ou, ainda conforme a regra: "um dia é COMO CERCA DE mil anos para Deus". E isto visto pelo ângulo humana, temporal, limitado.
4. Quando a Bíblia quer estabelecer uma medida profética de tempo, não emprega idiomatismos nem comparações vagas. Exemplos:
Núm. 14:34: "Quarenta dias, CADA DIA REPRESENTANDO UM ANO, levareis as vossas iniqüidades, quarenta anos".
Ezeq. 4:7: "Quarenta dias te dei, CADA DIA POR UM ANO".
Maior clareza não pode haver. Não se trata de idiomatismo, nem de comparação. Temos a equivalência clara, lógica, insofismável. E o conteúdo dos versículos alude inequivocamente a um futuro. Portanto é profético. No primeiro caso, a correlação de sentido é tão clara que estabelece a equivalência, e pode ser perfeitamente traduzido assim: "UM DIA EQUIVALE A UM ANO". No segundo caso, há um fato que reforça o sentido. No original hebraico está repetida a expressão "cada dia por um ano". Está literalmente assim: "um dia para o ano, um dia para o ano". Ou melhor traduzindo: "um dia eqüivale a um ano, sim eqüivale a um ano".
Tal é o critério divino de expressar padrões de tempo profético.
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